Muito se fala e estuda sobre o papel das emoções em diversas formas de adoecimento. Os estudos apontam que temos vários órgãos classicamente de choque para o aparecimento de doenças que serão desencadeadas, mantidas ou agravadas por fatores emocionais, que irão interferir diretamente na saúde global do indivíduo.
O profissional de saúde, seja de qualquer área, que estiver apto a reconhecer os fatores emocionais intervenientes no curso do sofrimento físico de seus pacientes, estará na dianteira do percurso de ajuda. Portanto, será mais completo em seu fazer e terá maiores possibilidades de desenvolver um relacionamento colaborativo na busca de bem estar das pessoas que atende.
Em minha prática clínica, percebi que quando meu trabalho envolve tanto o amparo clínico psicoterapêutico quanto um conhecimento basal das questões físicas que estão interligadas com o sofrimento do meu paciente, a adesão e a evolução é mais rápida.
Uma das histórias mais marcantes em minha prática foi o caso de M., uma senhora de 65 anos que chegou em meu consultório encaminhada por sua dermatologista. M. estava há meses em crise de psoríase. A sua médica havia prescrito várias terapêuticas medicamentosas sem sucesso. Na primeira consulta M. relata não entender o “porquê” do encaminhamento. O documento em suas mãos dizia: “Encaminho a paciente M. para psicoterapia, pois após prescrever muitas medicações com pequena melhora do quadro, concluo que fatores emocionais podem estar impedindo a melhora da paciente."
A pele é o maior órgão de nosso corpo e um dos mais comuns pontos de choque para reações psicossomáticas.
Pois bem, depois de explicar isto para a paciente, começamos o processo psicoterapêutico, claro que associado à medicação já prescrita pela dermatologista e que até então não havia surtido o efeito desejado. M. apresentava um quadro de psoríase nas costas. A lesão tomava boa parte de seu corpo e causava grande incômodo. Começamos a anamnese e após 4 sessões M. relata a história de seu divórcio e durante vários momentos, revoltada, dizia sentir-se apunhalada pelas costas, pois durante a crise conjugal descobrira que o marido a estava traindo com uma colega de trabalho. Perguntei à paciente se ela poderia me mostrar a lesão. Ela de pronto se levanta e mostra as costas... qual não foi a minha surpresa ao ver que a lesão escamosa e rachada lembrava uma punhalada (!).
Simbolicamente a paciente estava manifestando sua revolta e decepção através da lesão. Começamos a trabalhar o perdão e a compreensão de que “um terceiro” geralmente aparece, quando as relações não estão da forma que deveriam. Daí começamos a elencar os diversos problemas conjugais antecedentes e M. percebeu que, de fato, sua separação era anunciada e que a “traição”, embora injustificável, era um dos sintomas do casamento adoecido. Com essa percepção bem clara, ela ficou menos revoltada, chegando até a acreditar que a separação havia sido um bom caminho, afinal, uma vez que ela vivia infeliz enquanto casada. Começou a refazer a vida e adquiriu novos hábitos, novas relações de amizade e hobbies. Em seis meses de trabalho M. não apresentava mais a lesão...
Esse caso clínico que acabo de relatar, salvaguardando fatos identificatórios, aconteceu há 15 anos e me fez compreender que não poderia trabalhar com meus pacientes sem considerar que seu corpo revela seu emocional.