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A Psicologia como motivadora das potencialidades humanas para o caminho da felicidade possível.

A Psicologia tradicional sempre foi voltada para trabalhar o sofrimento e, partindo deste, encontrar soluções de minimização ou aceitação das mazelas humanas. Freud norteou sua prática para as questões do sofrimento e traumas e seus sucessores seguiram a mesma perspectiva, em busca de homeostase.

Claro que ao procurar um profissional de psicologia o indivíduo tem pontos de sofrimento a serem trabalhados, para que ele consiga melhorar sua qualidade de vida. Em minha prática como psicóloga clínica segui esse direcionamento, porém acrescentando um ponto a mais, salientando os aspectos positivos que os pacientes poderiam seguir, apesar de todas as questões que consolidavam seu sofrimento, principalmente no trato com pessoas deprimidas e com aqueles com adoecimentos psicossomáticos, que possuem como sintoma eixo o negativismo.

Comecei a usar intervenções que nos Estados Unidos da América, Martin Seligman em 1998, na condição de presidente da APA (American Psychological Association), colocava em seus artigos como uma necessidade para o avanço do fazer psicológico: Intervenções usando a Psicologia Positiva.

Estamos diante de novos tempos, novas formas de sofrimento surgem e com elas o advento de mudanças na maneira de viver das pessoas, o que provoca a necessidade de resiliência e adaptação também do fazer dos profissionais em psicologia. Como diz o movimento intitulado Psicologia Positiva no texto publicado em edição especial de 2001 do periódico American Psychologist, é uma “tentativa de levar os psicólogos contemporâneos a adotarem uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais, das motivações e das capacidades humanas” (Sheldon & King, 2001, p. 216).

Dentro de um trabalho usando ferramentas da Psicologia Positiva, devemos levar o paciente a explorar seu sistema de crenças (1) e acreditar na capacidade de desenvolver uma maior resiliência (2), que tem como principal característica a capacidade de adaptação às necessidades do meio. Para ajudar o paciente a reformular crenças e desenvolver resiliência, o profissional irá contribuir para que o sujeito analise as adversidades, contextualizando o sofrimento e percebendo o impacto dos acontecimentos em sua vida em ambos os contextos, positivos e negativos.

Em um segundo momento, o psicoterapeuta deve ajudar a pessoa a observar de maneira positiva a problemática, sem perder a perspectiva realista, explorando a capacidade e possibilidade de mudança ou de aceitação da realidade sem a manutenção do sofrimento (considero esta uma grande dificuldade a ser enfrentada pelo paciente).

Para que as adversidades possam ser superadas, será necessário um extenso trabalho de ajudar o indivíduo a desenvolver, respeitando as suas possibilidades, características como: flexibilidade, coesão, recursos sociais e econômicos, bem como capacidade de assertividade (3) para que ele possa identificar os problemas e atuar na tomada de decisões, sem perder seus objetivos, com uma postura pró-ativa. É um amplo trabalho que nem de longe desconsidera o sofrimento, mas intervem no intento de ajudar o sujeito a encontrar saídas saudáveis, sendo um processo pedagógico e psicológico na perspectiva de proporcionar a mudança na direção da felicidade possível.

Tenho conseguido bons resultados acoplando minha prática e experiência no manejo tradicional da Psicoterapia Cognitivo Comportamental aos manejos sugeridos pela Psicologia Positiva. Não tem preço perceber que a melhora, na maioria dos pacientes, acontece em tempo menor e o trabalho de prevenção de recaída é consolidado com uma nova forma de encarar o sofrimento. Nossa principal função ética, enquanto profissionais de saúde mental, é ofertar de maneira responsável todos os recursos possíveis, respeitando nosso código de conduta e cuidando para que nosso paciente receba um apoio eficaz.

(1) Em Psicologia Cognitiva, um sistema de crenças é desenvolvido a partir da infância com a formatação de ideias negativas, distorcidas da realidade, equivocadas pela forma como construímos nossa percepção sobre os acontecimentos de nossa vida sendo incorporadas como verdades absolutas, podendo causar uma gama de tipos de sofrimento psicológico.

(2) Resiliência é frequentemente referida por processos que explicam a “superação” de crises e adversidades em indivíduos, grupos e organizações (Yunes & Szymanski, 2001, Yunes, 2001, Tavares, 2001).

(3) Capacidade de expressar e agir em prol do que acha justo, reconhecendo e respeitando os direitos das outras pessoas.

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