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TECNOLOGIA: VILÃ OU HEROÍNA? USO DE TECNOLOGIAS POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES


Estamos vivendo um momento de consolidação de uma forma de administrar o cotidiano que exige dos mais velhos um nível de adaptação e um esforço adicionais. Porém, para as gerações nascidas de 25 anos em diante, parece ser natural o convívio com tudo que a tecnologia oferta como possibilidade de vivências e interações por terem nascido após o surgimento das tecnologias digitais. Atualmente o universo virtual oferta oportunidades inimagináveis que a 30 anos atrás eram impossíveis de conceber e os estudos apontam muitas possibilidades para o uso benéfico deste recurso que está mudando nossa forma de viver. Porém se usado de forma inadequada, a tecnologia, como qualquer outro segmento, pode se tornar danosa.

O uso dessas “novas” tecnologias digitais transformaram nossas vidas e vem causando discussões e pesquisas em todo o mundo sobre seus benefícios e malefícios. Diante de tantos questionamento pretendemos discorrer um pouco sobre esses dois lados da mesma moeda.

O desenvolvimento da tecnologia digital possibilita que nossa época seja classificada como a “Era da informação”, pois nunca havíamos tido a possibilidade de estarmos em contato com tantos dados em tempo real .Nasce uma nova maneira de lidar com conhecimento que impacta também na educação (Meirinhos,2000). Surge a geração “online” , fenômeno ainda pouco explorado, mas que está sendo alvo de indagações e discussões entre pesquisadores de educação e saúde mental. As regras a serem adotadas para que o uso de instrumentos da tecnologia sejam bem aproveitados e tragam benefícios em diversas áreas, tanto da educação quanto de outras demandas humanas, ainda estão sendo estudadas e formatadas. Por enquanto estamos em meio a muitas especulações.

As pesquisas no campo da saúde em relação ao uso de smartphone apontam que a tecnologia já foi incorporada à vida de maneira intensa. Há um estado de ideias de deslumbramento próxima ao “ tecnofetichismo” segundo Kerckhove (1998), conforme citado por Bueno (2016) em artigo intitulado “Geração Cabeça – Baixa: Saúde e comportamento dos jovens no uso das tecnologias móveis¨. Esse estado de funcionamento leva ás pessoas, principalmente crianças e adolescentes a mudanças de antigos hábitos e rotinas que são substituídos por novos comportamentos . O jovem passa longas horas de interação em conteúdos de dispositivos móveis e em muitos momentos com várias telas de outros dispositivos que os conectam a internet simultaneamente. Usam esse veículos tecnológicos para vencer barreiras geográficas e até de língua.

O uso sem critérios pode acarretar fatores de risco para acidentes em áreas urbanas, problemas do desenvolvimento músculo - esquelético pela postura adorada por muito tempo de cabeça baixa e o aparecimento de adoecimento psicológico, fruto da dependência.

Neste mundo tecnológico existe a possibilidade de manter uma espécie de “vida dupla” . No mundo real, regras e valores definidos por pais , professores e sociedade, norteiam os relacionamentos e condutas. É necessário desenvolver e aplicar habilidades sociais . Na rotina virtual as regras são flexíveis e fantasiosas trazendo a ilusão de que tudo pode. Essa suposta liberdade fascina e se, na vida real, o jovem não estiver dentro de um contexto saudável familiar e social, sua opção pode ser permanecer cada vez mais mergulhado neste mundo fictício.

Muitos vivem fascinados pelos jogos por conta da possibilidade de ser e fazer tudo o que estiver em sua vontade. Não há limites claros.

Alarma perceber que pais e familiares ofertam tecnologia em excesso em ambientes onde a proposta saudável seria de interação social , como em restaurantes, shoppings, dentro dos carros, na hora da refeição em casa e etc. Sob o pretexto de fazer com que a criança fique quieta e o jovem calado estamos desenvolvendo uma geração que se comunica verbalmente pouco e mantém uma postura distante da empatia, compaixão e afetos.

Problemas vão se consolidando por conta da superexposição aos eletrônicos, dentre eles, déficit de atenção, atrasos cognitivos, déficit de aprendizagem, impulsividade, dificuldade em lidar com a raiva e muita ansiedade que em diversos casos materializa-se em obesidade. Sabemos que comer na frente de TVs e computadores , faz com que percamos a noção de quantidade ingerida. Isto sem falar no sedentarismo e na falta de um lúdico de fato criativo que lidar com materiais de corte , colagem , pintura dentro outros materiais trazem, para nosso cérebro.

A infância e a adolescência são períodos da vida em que a pessoa está se desenvolvendo e adquirindo valores. Naturalmente , nestes períodos eles serão desafiadores e questionarão as regras, sem monitoria a internet passa a ser um mundo onde essas regras podem ser quebradas sem o crivo dos pais. Como tudo é muito rápido e está ao alcance de um “clic” na tela touch, esperar no mundo real e refletir no ócio produtivo torna se um estorvo . Estamos presenciando o surgimento de uma geração do imediato, uma geração sem paciência para esperar. É uma fase em que a imaginação e a fantasia são importantes pois levam a formação de pessoas criativas , cheias de ideias e ideais. O exercício da imaginação inventiva no anonimato propiciado pela internet pode acarretar em “fakes” onde o jovem se vê na possibilidade de expressar de forma anônima todo tipo de posicionamento e de mentiras sem necessariamente ter que pagar o preço por isto.

A falsa impressão, que as redes sociais proporcionam de muitos “amigos”, aumenta o contato entre grupos de iguais e tira do jovem, quando usada como principal fonte de contato social, a possibilidade de ter que lidar com o diferente em um grupo real, aquele amigo que goza de minha afeição mas pensa diferente. O contato social com grupos presenciais ensina a desenvolver habilidade de aceitar aqueles que não pensam como eu e ajuda a administrar conflitos. Na internet, discordou de mim, posso excluir essa pessoa com um clique, sem precisar argumentar, convencer ou ser convencido. Tira a possibilidade de construção de identidades. Constrói a falsa impressão de muitos amigos. Mas, serão amigos mesmo?

Vale salientar que estamos agora tendo que compreender que palavra “amigo” como consta nos dicionários refere-se a “ pessoa com quem se tem uma relação de amizade, de afeto, de companheirismo”. Para que essa relação exista de forma plena, é necessário o contato real, presencial em grande parte do tempo. Já “amigo virtual”, é o termo usado para se referir a pessoa que você possui muito contato e intimidade virtual, ou seja, não se veem muito pessoalmente mas através de redes sociais conversam e compartilham coisas. Em muitos casos, não sei se essa pessoa com quem falo, é de fato quem diz ser. Isto é um risco em vários aspectos. Vale salientar a importância de confirmar a identidade das pessoas com quem compartilhamos nossas particularidades. Se na vida, um amigo presencial pode vir a nos decepcionar e mentir, imagine alguém que só possui vínculo pela tela de um dispositivo tecnológico.

Mas, será mesmo que uma “amizade virtual” substitui amizades presenciais no aspecto de suprir as necessidades humanas de acolhimento e convívio? A perspectiva que a internet abre de aproximação com pessoas em todo o mundo é boa, mas não substitui o contato presencial e aí reside o problema. Quantas pessoas de fato, em suas redes sociais , são “amigos” com os quais você pode contar se passar mal na rua ou se precisar de um ombro para chorar ou de companhia para um lazer na praia num final de semana? Com quantos você tem um relacionamento verdadeiro de fato?

A substituição dos valores reais por virtuais é preocupante na medida em que o uso da tecnologia passa a ser a única fonte ou a maior fonte de prazer das pessoas. Elas se tornam solitárias com a falsa impressão de que possuem 2.000 amigos.

Fato é que diante do uso sem limites da tecnologia por pessoas em desenvolvimento como é o caso de crianças e adolescentes, sem monitoria de adultos esclarecidos quanto ao uso saudável desta ferramenta, pode ser extremamente danoso para a formação de pessoas emocionalmente saudáveis.

Porém, como toda moeda possui dois lados, o uso da tecnologia consciente de suas possibilidades benéficas pode ser de extrema valia para crianças, adolescentes e adultos.

Pais devem apropriar se no manejo destes aparelhos e estabelecer regras e limites de uso. A internet em si não é má e nem boa. É apenas um instrumento. O que a faz nefasta ou valiosa é o uso que podemos fazer de sua imensa capacidade.

Do outro lado da moeda estão as incríveis possibilidades tecnológicas que agregam benefícios para áreas como medicina, psicologia, engenharia, dentre outras áreas e para a vida do cidadão em sua rotina diária.

O uso no entanto, precisa ser revisto.

Os jogos criados por neurocientistas, psicólogos, psiquiatras e profissionais de informática para ajudar a potencializar funções cognitivas são extremamente eficazes e divertidos. Os aplicativos para organização de tempo, mindfulness , monitoramento de funções vitais dentre outros chegam a salvar vidas. A robótica é uma realidade encantadora que levará a medicina para um nível de possibilidades infinitas. O treinamento cerebral usando Neurofeedback amplia as possibilidades do cuidado com aspectos de adoecimentos neuropsiquiátricos. Todas as áreas da vida atual podem ser beneficiadas pela tecnologia e pelo arcabouço de informações rápidas que a internet proporciona. As escolas estão fazendo uso consciente e didático com a advento dos tablets para confecção de trabalhos e pesquisa. As vídeos conferências e os cursos “on line” aproximam pessoas e possibilitam conhecimento e cultura. O mundo corporativo sem a internet, sobretudo bancos e grandes empresas estariam em dificuldades, pois hoje se faz de depósitos de cheques a grandes transações bancárias usando note books .

A globalização proporcionada pela internet é um fenômeno que transformou nossa linda bola azul em um planeta do tamanho de uma bola de gude diante da rapidez com que as informações são passadas.

Usar com sabedoria este universo infinito é o que fará dele um salto quântico em todas as áreas de nossa vida.

Pais devem ser preparados para essa nova forma de existir e interagir de seus filhos .

Orientação para a família e a quebra do pensamento de que manejar tecnologia é coisa para os jovens, precisa ser definitivamente posta abaixo. Surgem perguntas que pais devem se fazer: como : conheço o mundo virtual dos meus filhos? Reservo tempo para jogar ou para participar deste universo? É possível educar sem participar e sem conversar? Como orientar sem proximidade? Como receber afeto e atenção sem ofertar? As perguntas a serem respondidas são inúmeras e as respostas são obvias.

Vale salientar que disponibilizar bens materiais e conforto não substitui a necessidade humana de alimento afetivo. Nada substitui o olho no olho, o abraço apertado, o ombro para o choro ou o sorriso diante da alegria, nada fica no lugar da presença física. Portanto, a tecnologia pode assumir o papel de vilã ou de heroína. Tudo depende da maneira como construímos esse universo particular.

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